(Foto: Jornal Rio Pardense)
Há poucas semanas, eu estava escrevendo um artigo sobre Educação e Sustentabilidade, mas não terminei.
Parei, em choque, por causa das notícias avassaladoras sobre a destruição de extensas reservas naturais em nosso país. O derramamento
de rejeitos da mineradora Samarco no Rio Doce, e a queimada na Chapada
Diamantina nos assustam pelos danos ambientais de proporções imensuráveis. Ambos acontecendo concomitantemente, e poluindo
tudo o que alcançam: chão, água, céu… ar e mar!
O pior de tudo isso é saber que por um tempo muito longo
teremos que conviver com a Natureza assim… a “Natureza antinatural”: absurda,
derrogatória, infame, insana.
(Foto: oecojornal.com.br)
Insana? Sim, insana como os seres humanos que por ganância
absoluta e um egoísmo infindável pintaram de marrom sujo, gosmento e barrento
as águas outroras cristalinas de um dos mais importantes rios do Sudeste. Tal
insanidade lamacenta traçou uma linha
turva no mapa, que invadiu povoados, estraçalhou casas e, sem que fosse impedida,
chegou ao mar infinito, trocando sonhos por indignação e dor. Também insana é a
Natureza devorada pelo Fogo. Que a visão
não se iluda. As espetaculares labaredas dançam enlouquecidas e cruéis por
dentro da mata: e matam. Não há clemência, nem perdão, condenam imediatamente
tudo o que encontram pela frente.
Infame? Sim, a Natureza virou infame quando impuseram o mais
amargo fel `a vida das pessoas dependentes do Rio chamado… Doce. A infâmia,
sempre irônica, também substituiu o ar puro de bosques verdejantes por uma
fumaça negra, implacável, reduzindo a pó o movimento da vida.
Derrogatória? Sim, tornou-se derrogatória a Natureza quando tiraram
o oxigênio da água, e trouxeram `a sua tona milhares de peixes inertes
flutuando na vergonha dos elevados níveis tóxicos dos refugos da
irresponsabilidade. A mesma ofensa fez a Fumaça tirana, extraindo o ar do ar da
Chapada Diamantina, e deixando a nu o seu corpo, distorcido.
Absurda? Absurda virou a Natureza por confiar demais no
homem e permitir ser explorada, desvastada, ludibriada e, por conta dos
constantes abusos da ganância e do poder, transformada em “antinatural”. A “natureza”
que a usura produz se esgota em si mesma… vira outra coisa, um objeto para o
prazer de seu algoz, disponível aos
desejos e vontades de seu grande vilão. E quem vem socorrer a Natureza
desgastada, terrivelmente abusada, antes que se transforme no oposto de si
mesma?
Muitos podem pensar… “mas é a primeira vez que rejeitos de
mineradoras provocam um acidente ambiental no Brasil” ou que “queimadas destroem
o Parque Nacional da Chapada Diamantina”. Não. Não é. Gostaria de que fosse a
última, mas infelizmente, não é a primeira vez que a destruição do meio
ambiente causa morte e constrangimento nesses lugares, em virtude da ação humana.
Veja-se que no ano passado, em setembro de 2014, a
mineradora Herculano já havia causado um acidente grave, por causa
do rompimento de barragens, soterrando 8 trabalhadores e matando 3 dentre eles.
As queimadas
no oeste baiano acontecem todos os anos, invariavelmente. E o ecossistema
das Chapadas sofre lesões cada vez mais irreparáveis.
Infelizmente, os grandes jornais não dão a devida atenção aos
crimes ambientais cometidos em nosso país. Apenas quando há acidentes de
grandes proporções, e organizações nacionais e especialmente internacionais
criticam, é que há a preocupação em noticiar, em buscar os responsáveis pelo
dano, em demonstrar o interesse pela situação. O descaso com a preservação da
natureza só aumenta a vergonha pela destruição descabida da vida humana, animal
e vegetal.
Mas antes de reclamarmos a falta de notícias na grande mídia,
vamos questionar por que ocorrem acidentes de forte impacto contra a Natureza.
O motivo é, na verdade, o mesmo por que ocorrem os acidentes de menor impacto.
A causa é única e tem um nome: irrespeitabilidade.
Ir-res-pei-ta-bi-li-da-de é a total falta de consideração e
respeito para com o outro. A inalteridade. O “outro” não vale nada. Quer dizer,
sim, vale como produto usufruído pelo “ser controlador”. Mas, não há negociação
possível. O “ser controlador” é um devastador implacável, e ironicamente, é
“descontrolado”.
A irrespeitabilidade é o produto da ambição sem limites,
reforçada por um planejamento que tem como prioridade o benefício próprio,
nunca o do outro. O outro pode morrer, aniquilar-se… pouco importa. O
enriquecimento é exclusivamente pessoal, ou de poucos privilegiados, não de interesse público.
Ora, a irrespeitabilidade se opõe frontalmente `a
sustentabilidade.
A sustentabilidade busca o equilíbrio entre sistemas sejam
quais forem, busca o diálogo, a troca de informações, a dependência mútua.
A sustentabilidade busca incessantemente a harmonia entre
Homem e Natureza. A irrespeitabilidade provoca uma competição entre essas
partes, em que o primeiro pensa que vence… sem saber que é quem justamente mais
perde.
A irrespeitabilidade, em última análise, prejudica esse “ser
controlador” que é o maior responsável pelo surgimento da Natureza insana, infame,
derrogatória e absurda. A “Natureza antinatural” é invenção do homem, que crê
apenas em si. Ele se esquece que também faz parte da Natureza-mãe e que só pode
realmente ser feliz quando esta se fortalece.
Mas como ele pode entender isso? Se é por aula teórica… até
agora não aprendeu. Comete em sua prática ações arrasadoras não apenas contra
outros, mas contra si mesmo. Falta mesmo Educação e Sustentabilidade a esse
homem “controlador” para que perceba que enquanto sua ganância incontrolável
for o seu maior objetivo, ele estará aniquilando a si mesmo.
Ao final, acho que escrevi um artigo sobre meu
tema original. Basta agora pensar de que forma educar monstros.
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